|  | Notas
sobre fotografias digitais subaquáticasBreves
pistas de reflexão para quem sonha fazer fotografias digitais subaquáticas
como amador. A ler antes de escolher o equipamento. Pede-me um
leitor que o ajude a escolher
uma máquina que se
pudesse adaptar "ao mundo aquático", que tivesse um grande zoom
óptico e também uma qualidade de imagem nunca inferior a 4 megapixels. A
fotografia subaquática foi uma das áreas que mais beneficiou com
o advento das máquinas digitais ao eliminar a necessidade de substituir
o filme ao fim de 36 exposições. Finalmente, é possível
disparar dentro de água sem medo de ter de regressar à superfície
e abrir a máquina. A menos que as pilhas acabem :-) Apesar da minha
experiência ser limitada ao mergulho esporádico em apneia, creio
que as seguintes notas poderão ser úteis a quem pretenda iniciar-se
na fotografia subaquática. A maioria das notas são válidas
para a fotografia em filme e digital, mas algumas aplicam-se apenas à fotografia
digital: |  Nikon
D50, 18-55mm 3.5-5.6 Ewa-Marine U-AX, 2m profundidade | - A
quantidade de luz nas praias é normalmente muito abundante, sobretudo no
Verão, quando a maioria das pessoas as frequenta. Todavia, assim que se
mergulha, a quantidade de luz diminui fortemente.
- Dentro de água,
é necessário limitar o tempo de exposição para conseguir
tirar fotografias com um mínimo de nitidez. Eu diria que a velocidade mínima
deverá ser 1/60s. Para exposições mais lentas, é necessário
usar um tripé :-)
- Uma das formas de reduzir o tempo de exposição
é aumentar o ganho do sensor (que, por ser semelhante à variação
de sensibilidade do filme, se chama ISO 100, ISO 200, etc.). Todavia, o preço
a pagar é o aumento do ruído (que é identificado com o grão
do filme) na imagem.
Na maioria dos testes publicados em revistas, as máquinas
são ensaidas e comparadas a ISO 100, mas neste caso importa conhecer os
desempenhos para sensibilidades mais elevadas. E é frequente encontrar
conjuntos de máquinas que têm um desempenho semelhante a ISO 100
mas cujo desempenho diverge muito nas sensibilidades iguais ou superiores a ISO
400. - A outra forma de obter exposições rápidas num
meio escuro, é usar uma lente mais luminosa. Estas lentes definem-se por
ter uma abertura com um número mais baixo. Por exemplo, uma lente f/2.8,
recebe o dobro da luz de uma lente f/4 para a mesma distância focal. Com
raras excepções, as lentes mais luminosas são maiores e mais
caras do que as lentes menos luminosas.
|  Nikon
D50, 18-55mm 3.5-5.6, flash Ewa-Marine U-AX, 3m profundidade | - A
maioria das máquinas fotográficas com zoom são mais luminosas
como grandes angulares do que como teleobjectivas; este dado é normalmente
descrito por meio de dois valores de abertura. Por exemplo: 5.8-17.4mm f/2.8-4.8,
significa que a máquina tem abertura máxima de 2.8 com a lente 5.8mm
e 4.8 com a lente a 17.4mm. Para minimizar o tempo de exposição
deve-se usar a máquina em grande angular.
- A visibilidade dentro
de água é muito reduzida face à visibilidade no ar. Em Portugal
continental, a visibilidade para fotografia raramente ultrapassará os 3
ou 4 metros. Por isso, não é fácil tirar partido de uma teleobjectiva
muito longa.
- Quando se aumenta a distância focal (e se amplia o
tema), reduz-se o ângulo compreendido na imagem. Ao fazê-lo, dificulta-se
a focagem pois os elementos da imagem tornam-se mais homogéneos, aumenta-se
a oscilação da imagem em virtude do movimento das mãos e
aumenta-se o efeito de arrasto pela deriva do mergulhador na corrente.
O único
ganho é o enquadramento mais apertado que oferece ao tema a maior parte
da imagem. Mas raramente compensa: na fotografia subaquática, o enquadramento
deve ser feito no computador (ou no laboratório). - A quantidade
de partículas em suspensão na água é elevada, sobretudo
na orla costeira batida pelas ondas. Estas partículas limitam fortemente
o uso do flash ao pontuarem a imagem com espelhos cintilantes. A água também
absorve parte da energia do flash, diminuindo o seu alcance.
|  Canon
A70 Ewa-Marine D-AM, 2m profundidade | - Decorre
das quatro notas anteriores que as teleobjectivas têm pouca aplicação
dentro de água: são menos luminosas, amplificam as vibrações
e os movimentos indesejados e o flash não é capaz de tirar partido
do seu longo alcance.
Portanto, não me parece interessante dispor de
um zoom longo, 10x por exemplo, dentro de água. Os zooms superiores a 3x
(tipicamente equivalentes a 35mm-105mm no formato de filme de 35mm) raramente
são úteis, atrasam a operação e, como a maioria deles
trabalha num número limitado de degraus, reduz o número
de degraus disponível na gama relevante. - Não me parece que
seja necessário usar uma máquina de 4 megapixel para fotografias
subaquáticas. Creio que 2 megapixel é suficiente, sendo mais importante
a qualidade e luminosidade da lente. Sem embargo, este já não é
um factor crítico em Janeiro de 2005 pois as máquinas de 3 megapixel
estão a desaparecer dos escaparates.
Da minha experiência, é
uma ilusão pensar que numa máquina de 4 megapixel se pode cortar
e reenquadrar a imagem, para obter uma imagem com a mesma qualidade de uma fotografia
de uma máquina de 2 megapixel. - A proporção de cor
vermelha na luz é muito menor dentro de água do que à superfície,
sendo por isso necessário prestar atenção ao equilíbrio
de brancos (white balance) que deve corrigir a dominante anil ou turquesa (cyan).
Há pessoas que ficam satisfeitas com a escolha automática da máquina,
enquanto outras preferem definir a temperatura de cor que define a cor branca.
- A
maioria das máquinas digitais não tem modos especializados para
mergulho, embora algumas máquinas mais recentes já o tenham - por
exemplo as Pentax série S ou as mais recentes Canon série A -, obrigando
o utilizador a reduzir a exposição 1 stop ou mais, para
obter uma exposição próxima daquilo que os olhos vêem.
Os modos subaquáticos parametrizam o balanço de brancos e o valor
do ISO, limitam o tempo de exposição, corrigem o autofoco, etc.
A
existência deste modo pode facilitar a operação dentro de
água e é um factor positivo a considerar na escolha da máquina.
|  Nikon
D50, 50mm 1.8 Ewa-Marine U-AX, 1m profundidade | - Há
máquinas com sistemas estabilizadores de imagem dimensionados para uso
à superfície. Não tenho experiência sobre
a eficiência destes sistemas em fotografia subaquática.
- Dada
a dificuldade de fotografar ao longe, as fotografias de macro (curta distância)
são muito populares dentro de água. Porém, não confie
demasiado na focagem manual: é muito difícil focar através
de vários vidros enquanto se mergulha.
- Há numerosas compactas
que dispõem de um estojo para mergulho em opção. Estes estojos
custam cerca de 30% a 50% do preço da máquina e são por vezes
difíceis de obter em Portugal. Normalmente, servem para usar em apneia,
até à profundidade de cerca de 10m. Para mais informações
consulte, por exemplo, o portal Digideep.
- Uma
outra solução é comprar um invólucro flexível
ou uma caixa de uma marca especializada, por exemplo da Ikelite
ou da ewa-marine. Eu tenho uma experiência limitada e
positiva com os produtos da ewa-marine.
A empresa António
Hipólito, Lda representa em Portugal os produtos da Ikelite
e ewa-marine, entre outras marcas. - Os mergulhadores de profundidade abaixo
de 10m devem ponderar outras soluções que incluam fontes de luz
dedicadas pois a luz ambiente é insignificante e os flashes incorporados
nas máquinas são insuficientes e podem até ser prejudiciais
ao reflectir as mais pequenas partículas,visto que estão alinhados
com o eixo óptico da máquina.
Uma luz externa oblíqua
em relação ao eixo óptico da objectiva permite minimizar
este problema. Um arranjo familiar aos amadores experientes é usar dois
flashes montados obliquamente acima e à esquerda e direita da câmara,
e que convergem com o eixo óptico a cerca de 1 a 2 m da objectiva.
|
 Nikon
F70, AF-D 28-80mm 3.5-5.6 Ewa-Marine U-AX, 4m profundidade | ConclusõesQualquer
máquina digital compacta com zoom de 3x dotada de uma protecção
estanque servirá para tirar fotografias subaquáticas amadoras. As
máquinas com lentes mais luminosas são preferíveis. As máquinas
cujo desempenho em altas sensibilidades (ISO 400 ou superior) se degradar menos,
são preferíveis. As máquinas com um bom modo de macro - em
especial aquelas que ampliam a janela central para verificar a focagem - são
preferíveis. As máquinas com modos dedicados de mergulho podem ser
preferíveis. Atendendo à forma genérica do pedido do
leitor e pensando que se dedicará a uma utilização ocasional,
penso que um estojo flexível pode ser uma boa solução. Deste
modo, não se perde o investimento quando se troca de máquina fotográfica.
O maior inconveniente é a dificuldade de operar os botões da máquina
por fora do estojo. ReferênciasPor omissão,
as referências indicadas estão em inglês. |
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©2005 João Gomes Mota | | |